Impacto ambiental de compras on-line entra no radar das empresas, que tentam conciliar velocidade com menos emissões
BRASÍLIA — Um fator decisivo na concorrência entre grandes varejistas on-line é a entrega rápida. Algumas prometem produtos em horas ou até minutos na casa do cliente, mas essa disputa só aumenta o impacto ambiental da logística por trás dos envios. Agora, esse debate aparece na Europa e começa a chegar às empresas brasileiras.
Para entregar mais rápido, as lojas on-line precisam de mais veículos movidos a combustíveis fósseis, emissores de carbono.
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Nem sempre os carros, vans ou caminhões saem do ponto de distribuição tão cheios quanto poderiam porque têm pressa. Ana Carolina Angelo, professora do Departamento de Engenharia de Produção da UFF, diz que o varejo conseguiu equacionar o esforço logístico da entrega rápida do ponto de vista financeiro, mas ainda não do ambiental:
— Isso eleva de forma considerável a emissão de poluentes atmosféricos.
Essa questão foi levantada na Europa no ano passado pelos Correios da Espanha, que lançaram o “envio responsável”. O consumidor passou a ter a opção de uma entrega menos rápida ao ser informados de que causa menor impacto ambiental. E muita gente está disposta a esperar mais em nome dessa causa.
Uma pesquisa do Massachusetts Institute of Technology (MIT), dos EUA, no México, já apontava em 2018 que consumidores estão abertos à mudança. O estudo concluiu que, se as empresas oferecerem ao consumidor dados sobre o impacto ambiental das entregas, eles estariam dispostos a esperar até quatro dias a mais, em média, pelas compras.
A pesquisa mostra que essa discussão não é nova, mas a explosão das entregas na pandemia trouxe o tema para as empresas e consumidores.
O professor de Engenharia de Transportes da Coppe/UFRJ e presidente do Instituto Brasileiro de Transporte Sustentável (IBTS), Márcio D’Agosto, diz que espaço ocioso nos veículos significa maior consumo de energia para menos carga:
— Em uma compra que você faz pela internet num determinado estado e dá uma demanda de urgência para receber de um dia para o outro ou no mesmo dia, a entrega vai ser feita sem estar consolidando a carga no veículo pela rapidez. Vai sair meio cheio.
Fontes renováveis
Ariel Katz, gerente sênior de Ambiente do Mercado Livre, diz que a empresa trabalha para medir e mitigar seu impacto ambiental com uso de fontes renováveis de energia e apoio à conservação de florestas como a Mata Atlântica.
Ele diz que o envio rápido não necessariamente exclui fatores como a otimização dos transportes:
— Uma logística eficiente significa o melhor aproveitamento de espaços e recursos que permitam o menor custo operacional para as empresas e o melhor preço e prazo para os usuários. O investimento que fazemos na nossa malha própria permite esse aproveitamento, gestão de tempo e capacidade. Uma logística rápida sem eficiência e otimização não é financeiramente e ambientalmente sustentável.
A gigante americana Amazon é outra que oferece serviço de entrega rápida no Brasil. Em nota, a empresa explicou que, ao instalar um centro de distribuição, considera aspectos geográficos e também ambientais na tentativa de encurtar a distância até o cliente.
Diz que os 12 centros e quatro armazéns no país possibilitam um serviço sem impacto negativo ao meio ambiente. Além disso, informou que, na hora de separar produtos e alocá-los nos veículos, a empresa conta com um sistema inteligente de agrupamento de produtos.
“Consideramos que temos muitos desafios logísticos a serem vencidos no Brasil, e temos o comprometimento de estarmos aperfeiçoando nossos modelos de entrega, para cada vez mais sermos mais sustentáveis, enquanto oferecemos experiências de compra positivas”, aponta em nota.
O uso de combustíveis mais amigáveis ao meio ambiente pode ser uma saída, diz Ana Carolina Angelo, da UFF. Ela destaca veículos elétricos e os movidos a biocombustíveis ou a biogás, obtidos de resíduos:
— Acredito que as empresas possam recorrer a estratégias associadas à economia circular, como utilização de fontes renováveis de energia.
Katz, do Mercado Livre, diz que a empresa incorporou recentemente 44 carretas movidas a gás (GNV e biometano) como uma das estratégias para reduzir as emissões de carbono das entregas. Elas se somam a outras 51 vans elétricas da empresa em operação.
— Para reforçar a caminhada para uma logística cada vez mais sustentável, temos o compromisso de chegar ao fim de 2022 com mais de 250 vans elétricas — diz ele.
Fonte: O Globo
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