Não é de hoje que o setor de transportes de cargas vem enfrentando uma série de entraves em todo o País. A combinação da elevação de gastos com combustíveis com o desabastecimento de peças no mercado tem inviabilizado o negócio para muitas empresas, reduzindo as margens próximo de zero.
Uma solução talvez estivesse no repasse dos custos, que se tornam cada vez mais escassos, em função do desaquecimento econômico provocado pela pandemia de Covid-19.
A avaliação é do presidente do Sindicato das Empresas de Transportes de Cargas e Logísticas de Minas Gerais (Setcemg), Gladstone Lobato. Segundo ele, não bastassem os sucessivos aumentos no preço do óleo diesel no decorrer deste exercício, no início deste mês chegou ao fim a isenção do PIS/Cofins concedida pelo governo federal durante os meses de março e abril. Além disso, há alguns meses a dificuldade em encontrar pneus e peças para os caminhões também tem sido um dificultador para o negócio.
“Quanto ao combustível, nossas entidades têm lutado para diminuir a quantidade de biodiesel no diesel, porque além de prejudicar o motor também onera o preço. Já em relação às peças e componentes, está cada vez mais difícil. Quando não é desabastecimento é preço dobrado ou triplicado”, reclama.
Apenas os preços dos pneus, conforme Lobato, subiram 70% no último ano. Não bastasse isso, o dirigente também fala sobre os custos específicos em Minas Gerais, onde os gastos com manutenção dos veículos são bem superiores aos de São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo.
“A vida útil dos pneus chega ao dobro em uma empresa similar nestas regiões. Nossas estradas e topografia não colaboram em nada. Considerando demais custos de manutenção como óleo, combustível, peças e os próprios pneus, esse custo chega a ser, em média, 40% maior”, explica.
De acordo com o dirigente, o setor de transporte de cargas tem muita dificuldade de repassar os custos aos clientes. As empresas estão sempre protelando reajustes e com isso, a margem de lucro, que nunca foi das maiores, só definha. Segundo ele, os ganhos hoje não passam de 3%.
Em relação ao desempenho das atividades, Lobato afirma que a demanda está aquecida, uma vez que o abastecimento das cidades já foi restabelecido. No entanto, ele diz que ainda é cedo para traçar expectativas para o exercício, uma vez que a economia não está estabilizada, tampouco a crise sanitária. Já alguns segmentos fortes no Estado como o de minério de ferro e de cimento só não estão crescendo mais, por falta de caminhão nas rodovias.
“O problema nestes casos é justamente a falta de equipamento. A Scania, por exemplo, já vendeu toda a produção dela e não tem mais caminhões para venda. Isso tem impedido a renovação da frota e, consequentemente, a geração de mais empregos“, diz.
Transporte de cargas na pandemia
Pesquisa recente da Confederação Nacional do Transporte (CNT) mostrou que mais da metade das empresas (53,4%) acredita não ser possível prever quando terminarão os prejuízos da pandemia para o setor de transporte no País. Cerca de 40% avaliam a situação atual de suas empresas como satisfatória. Os transportadores acreditam que essa situação não vai mudar nos próximos seis meses (46,8%) ou poderá melhorar (24,9%).
Com isso, 55,7% tiveram redução no faturamento, enquanto 16,7% tiveram aumento; 58,4% acreditam que vão fechar 2021 com prejuízo. Por fim, 28,7% já adotaram demissões em 2021 por conta dos impactos da pandemia; sendo que mais da metade (53,6%) dessas empresas que já demitiram acreditam ter que continuar com os desligamentos nos próximos três meses.
Fonte: Diário do Comércio
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